Nos encontros de Cicloviajantes trazemos heróis de suas proprias jornadas para trocarem suas vivencias. Nese próximo encontro, teremos o lançamento de livro e projeção de fotografias. São parte da programação do mês de aniversário de 8 anos da Bicicletaria Cutural. Ernesto Stock  em “A Fantástica Epopeia que não era”, é uma ficção inspirada em uma travessia de bicicleta entre o Atlântico e o Pacífico realizada em 2013. Esta edição terá a participação do professor e psiquiatra Renato Franco, que abordara temas referentes à relação entre o relato de viagem  e sua construção da narrativa apoiada na  memória.  
Esta é uma obra de ficção, livremente inspirada em uma expedição de bicicleta
que realizei em 2013 na companhia de dois amigos. Foram quase três meses
percorrendo o sul do Brasil, o Paraguai, a Argentina e o Chile. Três mil quilômetros entre
o Oceano Atlântico e o Pacífico.
Concebido inicialmente como um relato tradicional, este livro cedeu
progressivamente à pressão dos personagens sedutores, dos encontros inusitados e da
tentação de forjar relações improváveis. O que a princípio se configurava como uma
vantagem narrativa, a verdade dos fatos e minha privilegiada visão de autor onipresente
sabedor dos fins e dos meios, terminou do avesso.
Conforme a história se desenvolvia e eu tinha que recorrer à memória para
descrever uma cena ou um acontecimento, talvez reais, percebia, cada vez mais, a
nulidade desse esforço. A verdade dos contornos e das formas escondia um mundo que
meu próprio olhar buscava, e minhas referências seletivas construíam, baseadas em
certezas falsas e imprecisas. A constatação do inevitável acabou por enterrar qualquer
tentativa de apego aos fatos. Esse processo é percebido e explícito no decorrer da
narrativa. Um livro de estrada, um romance de aventura, uma epopeia contemporânea
de tudo o que não existiu ou poderia. E também com todos os problemas do meio do
caminho.
Temos aí um ponto fundamental na construção deste livro: a questão da
memória e a sua fabulosa capacidade de inventar lugares e elevá-los à categoria de
verdades incontestes. Não tenho nenhum compromisso com outra verdade que não
seja a que as minhas referências e todo um emaranhado de lembranças
convenientemente inventadas pela minha imaginação possam apresentar.
O que garanto que sobra é o cuidado com que eu cultivo as histórias que vou
ouvindo e vivendo pelo meu caminho, e o lugar especial que reservo para elas na
construção do meu mundo inventado. Quando voltei da minha viagem de bicicleta, fazia
pouco mais de um ano que meu avô tinha morrido e senti muito em não poder dividir
toda essa experiência com ele. Um ano depois da minha avó, que durante anos foi
perdendo pouco a pouco todas as memórias de que tanto se orgulhava. Mesmo quando
não lembrava mais seu nome e nem se reconhecia no espelho, sentava em frente à
janela e cantava junto com meu avô uma infinidade de canções que descobriram juntos
em mais de sessenta anos de músicas. Todas as sensações que transbordam das
lembranças e dão sentido. Toda a força da memória. Esse livro é, sobretudo, um
presente para o meu avô.
Divirtam-se.

 

15/08 na Bicicletaria Cultural – 20h / rua pres. faria 226 – 4131530022 – GRATUITO