Para encontrar muitas equações, quase sempre com o mesmo resultado = sozinha
Pode até ser que exista outra pessoa dividindo a cama com você, mas na travessia pro lado de lá do sono não tem espaço para dois. Na bicicleta, a perna que dói é só sua, e a bunda que ainda não acostumou com o selim, também. A fome, a vontade de parar e as coisas todas que passam pela cabeça dentro da máquina fotográfica das sinapses cerebrais são únicas e extremas. Você já tentou conversar numa subida? Não dá. Em duas rodas, o que há é o silêncio, inevitável. No fim das contas, não tem diferença entre as duas. Girar corrente é meditar.
O perfeito não existe. Se existir, deve ser chato
Parafuso que solta, perna que deu cãibra, pedaço de estrada que desabou. “É feriado; só consigo arrumar em três dias”, disse o mecânico de oitenta anos no Porto, em Portugal, e aí não teve jeito: precisei ficar. Aconteceu muitas vezes. Resistir não adianta. Ódio no coração, menos ainda. A sabedoria maior foi entender que eu nunca tive controle de nada. Vai saber? Talvez aquele encontro mais lindo do mundo de dois meses depois não acontecesse se o bagageiro não tivesse quebrado. Meu respeito aos esquadros e às planilhas, todas elas – mas ainda acho o roteiro da vida infinitas vezes melhor.
Se não fosse de bicicleta, será que eu teria conhecido Castel de Cabra?
Acho que não. Mas naquele dia fiquei cansada e não consegui continuar. Então dormi ali mesmo. Nunca conheci uma pessoa que tenha ido à Castel de Cabra. Só eu. Virou meu segredo, sem testemunha. Procurei no Google, mas não encontrei. Acho que nem existe no mapa.